quinta-feira, 9 de agosto de 2007

A volta

Durante este tempo que passei sem falar, algumas coisas andaram me incomodando, e se acumulando. Acabou saindo isso, ainda sem título. Vou tentar musicar.



















Foto por Manunegra (flickr)

As histórias são lidas
no dia a dia da selvageria
o Sol queimando no lombo
derretendo o calçamento
atiradeiras apontando para o céu
desgovernado, sempre deseserto céu

Prometeram lá o paraíso
Prometeram paz

Enquanto a vida berra
a morte sussurra o alívio
meu peito se fecha
fica difícil respirar

Prometeram ar
Prometeram ar

Alguem falou em lutar pra mudar
alguem falou em esperança
mas eu não sei não
alguém não sei, eu não sei não
porque a coragem dói
e esse papo de esperança me cansa

Já vi muita gente tentar
já vi muita gente morrer
tanta ideologia declamada
no final é matar pra viver

Resta ainda a fé
Agora é crer para ver

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

O sumiço

Não! Eu não desisti do blog! hehehe...

É que o tempo anda curto agora na reta final do meu terceiro ano!
Então, como não deu pra escrever nada ainda, tô postando um texto legal que me mandaram de presente:

A Morte Devagar
Martha Medeiros

Morre lentamente quem não troca de idéias, não troca de discurso, evita as próprias contradições.

Morre lentamente quem vira escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto e as mesmas compras no supermercado. Quem não troca de marca, não arrisca vestir uma cor nova, não dá papo para quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru e seu parceiro diário. Muitos não podem comprar um livro ou uma entrada de cinema, mas muitos podem, e ainda assim alienam-se diante de um tubo de imagens que traz informação e entretenimento, mas que não deveria, mesmo com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em uma vida.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não acha graça de si mesmo.

Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio. Pode ser depressão, que é doença séria e requer ajuda profissional. Então fenece a cada dia quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda, e na maioria das vezes isso não é opção e, sim, destino: então um governo omisso pode matar lentamente uma boa parcela da população.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe. Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante. Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia. Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar.