terça-feira, 25 de agosto de 2009

Um Retrato.


















Dessa vez eles se superaram. As flores amarelas forravam a calçada e um pedaço do asfalto, cobrindo os carros que estavam estacionados perto do meio fio. Os ipes, nesta tarde de domingo, pareciam buques gigantes! Como as melhores coisas da vida, eles aparecem nas épocas mais áridas e secas, só para encher nossos olhos e lembrar-nos que a beleza existe.

Nunca gostei de domingos, desde criança. Achava uma chatice acordar, almoçar, dormir vendo futebol e ir à missa obrigado no fim do dia. Tudo fechado, ninguém nas ruas, aquele marasmo de velho oeste. Mas esse foi diferente. O tempo passa e a gente vai descobrindo que essa história de simplicidade nao é lorota dos nossos avós. Parece besta: sair de tarde para tirar umas fotos no campus da universidade, lugar onde estou todo santo dia, onde penso que já vi tudo que tinha pra ver. Os ciclistas pedalandos suas bicicletas, as crianças soltando pipas, comendo pipoca e apontando os bichos no zoológico. A gente tirando fotos. Parece banal. Parece!

Mas essas coisas, aparentemente banais, sao como amores e ipes. Estao sempre ali, esperando que nossos olhos percebam, aguardando a chance de se eternizar em nosso retrato. Basta notar.

Se os domingos fossem sempre assim, eu trocaria a minha TV por um retrato de um ipe.


Foto de Cecília

(Obs: Estou sem o acento circunflexo!)

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A Estação

Ele a viu. Era ela. No meio da multidão, assim mesmo, suados e enrugados pelo sol esturricante. Dois sorrisos apressados de segunda feira se acenaram, se reconheceram em meio a um segundo de caos no Terminal Central da cidade. A mistura de corpos e cabeças que se entrelaçavam nas plataformas logo engoliu aquela cena, que de tão fugaz pareceu-lhe uma miragem. Mas a memória não deixava dúvidas: depois de cinco longos anos, era ela.


A lembrança guardou a beleza como se guarda uma foto antiga, daquelas de papel. E a nostalgia ali se apoderava avassaladora, melancólica, bela. Junto, a vontade de voltar. Ser diferente, fazer diferente. O impacto daquele acontecimento, mesmo tão simples, o deixou grogue como um boxeador nocauteado. Passou o resto do dia cercado por aquele sorriso, aquela multidão e o oásis momentâneo do qual bebeu numa fração de tempo. Um tijolo azul no muro encardido da rotina.

E ficou pensando como é possível que hoje, na era dos bites e gigabites, da velocidade, da comunicação e da informação, pode passar 5 anos sem notícias. Algo deve estar errado. E é justamente daí que vêm os piores medos, os medos de sensação. A "sensação" de que há algo fora do lugar. E como não se sabe o que é, ou sequer se existe, ficam mãos atadas e olhos vendados, impossibilitados de corrigir, fazer diferente.

Assim, teve a impressão de que a realidade se engana, o futuro se confunde, "Os ventos erram a direção".

Porque ele a viu naquele dia. E tinha certeza. Era sim, era ela. Perdida no tempo, em meio a multidão.

domingo, 9 de agosto de 2009

O Vôo

Quando menino, soltei de propósito dois periquitos que tinha em uma gaiola.
É interessante a lógica do sentimento de uma criança. As vezes penso que elas são as mais sábias, e que essa sabedoria adormece com o passar dos anos.

Afinal, naquela época eu entendia a inutilidade de uma ave enjaulada.
Eu só ainda não sabia dizer que a verdadeira beleza do pássaro, é o vôo.