quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A Estação

Ele a viu. Era ela. No meio da multidão, assim mesmo, suados e enrugados pelo sol esturricante. Dois sorrisos apressados de segunda feira se acenaram, se reconheceram em meio a um segundo de caos no Terminal Central da cidade. A mistura de corpos e cabeças que se entrelaçavam nas plataformas logo engoliu aquela cena, que de tão fugaz pareceu-lhe uma miragem. Mas a memória não deixava dúvidas: depois de cinco longos anos, era ela.


A lembrança guardou a beleza como se guarda uma foto antiga, daquelas de papel. E a nostalgia ali se apoderava avassaladora, melancólica, bela. Junto, a vontade de voltar. Ser diferente, fazer diferente. O impacto daquele acontecimento, mesmo tão simples, o deixou grogue como um boxeador nocauteado. Passou o resto do dia cercado por aquele sorriso, aquela multidão e o oásis momentâneo do qual bebeu numa fração de tempo. Um tijolo azul no muro encardido da rotina.

E ficou pensando como é possível que hoje, na era dos bites e gigabites, da velocidade, da comunicação e da informação, pode passar 5 anos sem notícias. Algo deve estar errado. E é justamente daí que vêm os piores medos, os medos de sensação. A "sensação" de que há algo fora do lugar. E como não se sabe o que é, ou sequer se existe, ficam mãos atadas e olhos vendados, impossibilitados de corrigir, fazer diferente.

Assim, teve a impressão de que a realidade se engana, o futuro se confunde, "Os ventos erram a direção".

Porque ele a viu naquele dia. E tinha certeza. Era sim, era ela. Perdida no tempo, em meio a multidão.

Um comentário:

Maurício Mota disse...

Mtoo foda Ninno! Parabéns!

"Tijolo azul no muro encardido"

E o finalzin! fera! =)

Moriço