sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Ana


A paralisia das metrópoles é assustadora. Quase nada se move. Os arranha-céus estão ali eternamente ancorados como cânions, abismos, em cujos vales podem-se avistar pequenos pontos, os únicos em aparente movimento. Máquinas, obras faraônicas de engenharia, e humanóides, disputam o mesmo espaço. A vida escorre pelas veias da modernidade.

Esse era o único retrato que os olhos de Ana podiam conceber através da enorme janela da sala de estar. Um quadro embaçado e difuso, sem cores, imponente, frio. Quem sabe fosse um auto-retrato.

A sua história corria entre aquelas colinas cinzentas desde que saíra de sua cidade natal após a separação dos pais. Morava sozinha num grande apartamento de três quartos. Montou num deles sua mini-biblioteca, noutro um depósito de tralhas antigas e lembranças sem memória. O último e maior de todos era onde dormia. Havia uma pequena TV num canto do quarto, disposta em cima de uma caixa de papelão cheia de LPs que um dos tios lhe deu de presente e nunca ouviu. Não porque não tivesse vontade, mas porque não possuía um toca-discos e não fazia idéia de onde comprar um. No outro canto ficava a cama, muito estreita e feita com madeira barata. A parede onde estava encostada era forrada de figuras recortadas de cartazes, revistas, jornais, e tudo que dissesse respeito à sua banda favorita: a Legião Urbana.

Ana adorava Legião. Conheceu o grupo através de um amigo de escola que cantarolava “Eduardo e Mônica” pelos corredores sem parar. Ele lhe emprestou o cd “Dois” e ela ficou chocada com a precisão da descrição que uma das músicas, um blues, fazia da paisagem que via da janela da sala:

“Em cima dos telhados as antenas de TV
Tocam música urbana
Nas ruas os mendigos com esparadrapos podres
Cantam música urbana
Motocicletas querendo atenção às três da manhã
É só música urbana

Os PMs armados e as tropas de choque, vomitam música urbana
E nas escolas as crianças aprendem a repetir a música urbana
Nos bares os viciados sempre tentam conseguir a música urbana

O vento forte, seco e sujo em cantos de concreto
Parece música urbana
E a matilha de crianças sujas no meio da rua
Música urbana
E Nos pontos de ônibus estão todos ali, música urbana

Os uniformes,
Os cartazes,
Cinemas e os lares,
Favelas,
Coberturas,
Quase todos os lugares e mais uma criança nasceu
Não há mentiras nem verdades aqui
Só há música urbana”

A música urbana estava impregnada na rotina e na mente. O labirinto de concreto, o pseudo-lar, a vida que se mostrava cinza na vista panorâmica, tudo estava longe, mas muito longe de ser um sonho, de ser a fantasia, de ser o carnaval. O mundo havia mostrado os dentes.
(Continua...)

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Quebrando a Casca Mental

Talvez alguns poucos leitores do Sol na Laje notaram que no desenho que fica ali em cima, ao lado do título do blog, eu (sim aquele sou eu!) estou sem cabelos! Na última terça feira, eu decidi raspar a cabeça na máquina 1, pois eu já não estava mais aguentando ver fios meus enrolados por todos os cantos da casa devido a uma queda fulminante que me atacou neste ano. Vocês provavelmente estão se perguntando: "sim, mas e daí? o que eu tenho a ver com isso?". Ocorreu que o acontecido com meus tão queridos cachinhos me ensinaram um bocado de coisa...

Pra quem não me conhece pessoalmente, eu sempre fui conhecido pela "juba" que cultivava. Na escola eu tinha o singelo apelido de "Moita", e as pessoas me diziam: "pô lucas, esse teu cabelo é a tua identidade". Será??

Eu andei bem triste em frente ao espelho, vendo agora que com o cabelo curto já tenho quase uma daquelas "franjinhas" de calvos. Eu passei dias praguejando: "Putaqueopariu! Careca com 18 anos! Justo na fase de conquistar as menininhas!". E nessa de reclamar e reclamar, digamos que o meu eu no espelho me deu um baita de um tabefe na cara, como que dizendo: "Pô cara! Não é você que condena tanto esse sistema que torna as pessoas escravas de um padrão de beleza pré moldado? Não é você que critica as patricinhas maquiadas, a falta de personalidade, a escassez de gente que tenha vontade de abrir a casca pra ver o que tem dentro!? Lucas, ACORDA!"

E Eu comecei a acordar. Ainda não me levantei, mas as primeiras pegadas já estão marcadas aqui dentro.
O meu radar de reconhecimento de auto-babaquice foi aguçado ainda mais por um documentário que assisti hoje: "The Corporation". Vai a dica aqui que vale muito a pena.
Ele nos mostra como somos condicionados através de milhares de fórmulas publicitárias das grandes corporações a agir de acordo com os seus respectivos interesses, para que lucrem cada vez mais. Estas corporações tentam injetar nas pessoas um modo de vida pré-fabricado que nem sempre se encaixa nas suas verdadeiras características. E estes moldes entram nas nossas mentes sem que a gente perceba, e no meu caso a conseqüência foi olhar-se no espelho e não gostar do que vê, por que garotos de 17, 18 anos com entradas gigantescas não aparecem pegando menininhas na "malhação". Mas há casos muito piores, onde as pessoas arriscam até mesmo a vida em cirurgias, implantes e afins, pra ter um rosto igual ao das embalagens.

Depois dessa reflexão, eu sinceramente tive vergonha por quase ser mais um a cair nesta armadilha. Mas dei graças aos céus por perceber o erro, e mesmo jovem alcançar a evolução e a mudança de postura, mesmo que seja aos poucos.

A vida está além daquilo que chega aos olhos. É preciso dissecá-la, conhecer suas entranhas, sua essência, suas sensações. Isso sim é viver.

Ah! Como eu quero viajar!!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Cara Nova!

Pessoal, o Sol na Laje está de cara nova! Acho que depois de um pouco de esforço, consegui com que ele ficasse mais a minha cara... Ele agora é a minha bagunça, onde eu posso me organizar, é meu escape, meu pensamento.

Vocês devem ter reparado que fiz umas colagens no mural do blog. Essas são algumas pessoas que eu certamente convidaria para papear ao meu lado aqui na Laje, além de vocês, é claro! (OBS: pra ver todas as colagens a resolução da tela deverá ser 1024x768)

Um forte abraço! Em breve vou postar coisas novas!

domingo, 2 de dezembro de 2007

Saturno



O Que tanto olhas no horizonte?
Em linha reta, um mundo distante
pra te proteger da ilusão, da solidão

Mire os astros acima dos montes
Onde Deus sussurra uma canção
Onde saturno é tão pequeno

Porque lá a gente há de dançar
No tom da banda que quase tocou
E nos molhar ao som da chuva que quase caiu

Vamos viver tudo o que já vivemos

Hoje eu fiz as malas
Vou seguir viagem, me mudar
Vou morar em Titã
Voar pelos anéis de Saturno

Porque lá a gente há de dançar
com o som da banda que quase tocou
E nos molhar na água da chuva
Que quase caiu

Vamos viver o que deixamos de viver

domingo, 25 de novembro de 2007

Viagem

Há pedaços no tempo
Em que os olhos congelam

Há dias da semana
Em que o pensamento se dissolve

E ha meses e anos e séculos
Que a gente espera tudo chegar

Num trem que vem
não sei de onde
E não se sabe
pr'onde vai

Desconheço a sua cor
Seu gosto e paladar

Mas vi escrito nos seus olhos
Venha e viva o que virá

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Viva la Revolución


Algumas coisas andaram martelando minha cabeça nesses últimos tempos. Uma delas foi a tal da revolução.

Eu tenho escutado muita gente dizer que quer mudar. Mudar a cidade, mudar o país, mudar o rumo das coisas que não estão indo nada bem. E eu também faço parte dessa gente toda

Mas eu notei muitas palavras, até algumas atitudes, e poucas mudanças.

Foi então que comecei a me perguntar: por onde se começa uma revolução? Quem faz a revolução? já houve revolução?

E nesses pensamentos e discussões com algumas pessoas, eu cheguei a conclusão (pelo menos por enquanto, porque eu vivo mudando de idéia o tempo todo, e tem vez que nem eu me aguento) de que a revolução não se inicia de fora pra dentro, mas de dentro pra fora. Ela não começa nas ruas, ela começa na alma, e vai evoluindo para a mudança de pequenas atitudes cotidianas.

Precisamos parar pra respirar um pouco, e enxergar o que estamos fazendo. Será que fazemos a nossa parte? será que fazemos aquilo que pregamos?

Aliás, este é um assunto que tem me deixado PUTO! Poxa, é de indignar tanta hipocrisia, do tipo: "faça o que eu digo e não o que eu faço".

Se você acredita na paz, pratique-a
Se você acredita na tolerância, pratique-a
Se você acredita no amor pratique-o
Se você acredita na amizade, cultive-a
E se você acredita em mudança, por favor, MUDE! MUDE!

Acredite.
Dê o exemplo.
Revolucione-se.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Amuleto

Marcas

Cordões e amuletos
Jogos de azar

Minhas ondas velejo
Na calma do mar

Vou trazer de volta a praia
Vou atrás, vou buscar

E dizer aos ventos do norte
Que nem moinhos existem mais

Se os céus governam
Nós corremos atrás

Estas mãos que elevamos
Também podem construir o cais

Que nos trará felicidade,
alegria, paz e tudo mais

A Paz e tudo mais
tudo mais e a Paz

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Stairway to Heaven

Ele está de saco cheio.

Saco cheio da cidade, da fumaça, do calor, dos ônibus lotados, da rotina, da escola, do dinheiro, das desgraças, injustiças, esmolas, escândalos e de todo o tipo de sacanagem.

Ele tenta ver entre toda essa gente o que restou da vida. Não da existência, mas da vida. Colegas, amigos que não enxergam-no, e que ele também não enxerga. Muita gente querendo amar com pedras nas mãos.

Caco de vidro...

Algemas e correntes pesam...e ele também é hipócrita.

Mas é assim mesmo, como todo mundo é assim mesmo. Sonhos são assim mesmo, pesadelos são assim mesmo, a vida é assim mesmo, o amor é assim mesmo, o tempo é assim mesmo. E Dizem que com o tempo ele cresce, e não tem jeito, vai ficando assim mesmo, por ali mesmo, na mesma casa, na mesma rua, trabalhando do mesmo jeito. Arriando o mesmo pano da jangada, com o nome dele, que seu mesmo amor pintou.

E vai agindo assim. Escolhendo pela manhã qual máscara usará no resto do dia. Talhando em cada uma o nome de cada pessoa, para que não haja erros.

Mas vira e mexe ainda olha para o céu. Lá onde essa imensa mistura de concreto asfalto gente podridão disfarce fantasia fútil ainda não chegou. Lá do alto ele poderia ver tudo e todos como realmente são. O mundo bem grande. Bem grande como nunca viu.

Quem sabe ele precise mesmo é de uma escada...


A Stairway to Heaven...

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Tribunal de Rua

Dessa vez foi demais. Não poderia deixar de externar aqui o acontecido nesta semana em Cuiabá.
Acordei cedo para ir ao colégio, e como de costume, tomei um busão lotadíssimo até o centro da cidade. Quando estava para chegar no ponto em que desço, eu e o resto dos passageiros tivemos uma surpresa: Um congestionamento de coletivos imenso! Era o que parecia até então. Mas acabei por descobrir que não se tratava de um simples congestionamento, a coisa era muito maior.
Os ônibus estavam estacionados nas principais avenidas e ruas do centro, de forma que trancavam completamente o tráfego do local. Logo ocorre na cabeça da maioria das pessoas aquele pensamento comum e babaca: "puta merda, de novo esses baderneiros fazendo manifestações inúteis! Vou acabar chegando atrasado!". Só que quando cheguei na praça onde estavam concentrados os manifestantes percebi que pensamentos como este não condiziam com o que ocorria ali.

Aquela revolta era repentina e silenciosa. O motivo fiquei sabendo alguns minutos depois, ao chegar, finalmente, no colégio.
Os motoristas e cobradores dos coletivos de Cuiabá, e Várzea Grande (cidade vizinha) estavam paralisados em protesto a agressão física sofrida por um de seus colegas no dia anterior. O agressor? Um Policial.

Isso mesmo, um Policial, que é pago com a nossa grana arrecadada em impostos exorbitantes, e supostamente destinada à "segurança" da população. Este cara que deveria nos defender, parou o carro da linha 608 em uma blitz, e o condutor lhe disse que pararia o veiculo mais à frente devido aos cones que lhe impediam a passagem. O PM questionou: "O senhor está embriagado?", e ele disse: "É claro que não, pois estou em serviço!". E no desfecho do caso, o motorista acabou sendo algemado e espancado pelos oficiais, e por eles mesmos levado ao Pronto Socorro Municipal.

Então é este é o trabalho da Polícia Militar? Usar violência e autoritarismo para repreender gente que está trabalhando de verdade, levando e trazendo do "trabalho" todos os dias, os próprios PMs, de graça!? Ferir um cidadão, para mostrar todo o seu falso poder, e assim mascarar e blindar suas fraquezas pessoais!?
Esta é a nossa Justiça Cega? Cega só se for para engravatados! (que o diga nosso querido Renan!)
Porque o preto, o pobre e o trabalhador, que movem este país, ela sempre fez questão de enxergar, e julgar no seu Tribunal de Rua. E vai continuar julgando enquanto estivermos anestesiados, nessa paralisia burra e destruidora em que nos encontramos.

O Brasil já não sente dor...

O Brasil espera.


"O cano do fuzil refletiu o lado ruim do Brasil
Nos olhos de quem quer

Era só mais uma dura
Resquício de ditadura
Mostrando a mentalidade
de quem se sente autoridade
nesse Tribunal de Rua"
(Tribunal de Rua - O Rappa)


segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Me alivia sentir a imensidão, onde nada escuta a minha voz


Depois de muito tempo, os ventos resolveram finalmente assoprar Cuiabá. A fumaça do incêndio na Chapada dos Guimarães ainda encobre a cidade, mas aquela fumaça que embaçava meus dias foi dissipada.
Hoje fui acometido de uma sensação muito estranha. Estranha mas refrescante. Mesmo estando alí vivendo um dia igualzinho ao outro, na minha rotina quase sempre simétrica, fui atingido por um forte sentimento de liberdade e de retorno. Um furacão de vontades me sacudiu! Vontade de fazer coisas que sempre quis! Vontade de voar, de fazer uma música, de sorrir, viajar, conhecer gente e lugares novos, vontade de acreditar na vida, no mundo, e em mim mesmo.

Adorei a sensação, e espero que não acabe tão cedo!


*(Foto: Eu, do lado direito, e meu irmão Marcéu, na chapada dos Guimarães)

sexta-feira, 14 de setembro de 2007















Ei! Eu quero ver o que tem lá fora!
Quero saber se me ama ou me ignora
Se me alivia ou me entope de fumaça
Quero saber, quero saber agora!

Ver o asfalto derreter a chuva
A multidão encharcando as ruas
Achar um cão mastigando lixo
Devorando a humanidade crua

Eu quero ver o que tem lá fora!
Eu quero ver, quero ver agora!

Quero saber pra onde vai a minha grana
Quero saber! pra qual empresa americana?
Eu dou meu sangue trabalhando no Brasil
Mas ninguém sabe, ninguém crê e ninguem viu!

Onde é que tá a nossa fé? Vendemos!
Como é que tá nossa justiça? Vendada!
E como é a nossa mídia? Vendida!
Cada dia é uma nova cilada

Eu quero ver o que é que há lá fora!
Eu quero ver, quero ver agora!

domingo, 2 de setembro de 2007

Nem nas telas, nem nas rádios...mas no metrô de nova york, onde todos passam, e ninguém vê.

Tirem as suas próprias conclusões, dessa vez, vocês é que vão fazer a postagem...pois eu acho que não preciso de palavras...

Pobres, discriminados, vivendo em um país de primeiro mundo, mas preconceituoso como na idade média...e, ainda assim...TALENTOSOS!

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

A volta

Durante este tempo que passei sem falar, algumas coisas andaram me incomodando, e se acumulando. Acabou saindo isso, ainda sem título. Vou tentar musicar.



















Foto por Manunegra (flickr)

As histórias são lidas
no dia a dia da selvageria
o Sol queimando no lombo
derretendo o calçamento
atiradeiras apontando para o céu
desgovernado, sempre deseserto céu

Prometeram lá o paraíso
Prometeram paz

Enquanto a vida berra
a morte sussurra o alívio
meu peito se fecha
fica difícil respirar

Prometeram ar
Prometeram ar

Alguem falou em lutar pra mudar
alguem falou em esperança
mas eu não sei não
alguém não sei, eu não sei não
porque a coragem dói
e esse papo de esperança me cansa

Já vi muita gente tentar
já vi muita gente morrer
tanta ideologia declamada
no final é matar pra viver

Resta ainda a fé
Agora é crer para ver

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

O sumiço

Não! Eu não desisti do blog! hehehe...

É que o tempo anda curto agora na reta final do meu terceiro ano!
Então, como não deu pra escrever nada ainda, tô postando um texto legal que me mandaram de presente:

A Morte Devagar
Martha Medeiros

Morre lentamente quem não troca de idéias, não troca de discurso, evita as próprias contradições.

Morre lentamente quem vira escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto e as mesmas compras no supermercado. Quem não troca de marca, não arrisca vestir uma cor nova, não dá papo para quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru e seu parceiro diário. Muitos não podem comprar um livro ou uma entrada de cinema, mas muitos podem, e ainda assim alienam-se diante de um tubo de imagens que traz informação e entretenimento, mas que não deveria, mesmo com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em uma vida.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não acha graça de si mesmo.

Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio. Pode ser depressão, que é doença séria e requer ajuda profissional. Então fenece a cada dia quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda, e na maioria das vezes isso não é opção e, sim, destino: então um governo omisso pode matar lentamente uma boa parcela da população.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe. Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante. Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia. Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Ê Brasilzão! Ainda tá vivo no teu som!

Vantagens da internet. Sem ela eu nunca teria ouvido esta música, sem ela eu não descobriria que ainda tem gente fazendo música crítica de verdade no Brasil! Ássistam o vídeo!

A música se chama "Classe Média" e o cantor e compositor é Max Gonzaga. Aqui está o site do cara: http://www.maxgonzaga.com.br/

Qualquer semelhança da letra com os ouvintes não é mera coincidência. ;-)

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Oh céus! Mais e mais barreiras...

Parece que o Papa Bento XVI não aprendeu nada com seu antecessor, João Paulo segundo. Li ontem no jornal uma notícia que falava sobre um documento que a sua santidade publicou, afirmando categoricamente que a Igreja Católica é a única e verdadeira igreja de cristo.

Ora, sempre me disseram que devemos lutar pela igualdade e liberdade dos povos, que todas as culturas por mais opostas que sejam devem ser respeitadas, e agora ouço o chefão da entidade religiosa mais poderosa e influente que os olhos da humanidade já viram, a formadora de opiniões que já promoveu tantas "Campanhas da Fraternidade" pregar justamente o contratrio! Pregar a hostilidade e a desigualdade!

Abram caminho, pois a prepotência do sumo pontífice, o dono da verdade absoluta está passando. E um imenso rebanho de ovelhinhas robóticas vem na sua cola, pastando falta de bom senso, construindo mais e mais cercas sobre esta terra sofrida.

Mas que mania essa gente tem de separar tudo! Você aí que está lendo este texto, já reparou?
Apartheid das religiões, das culturas e territórios, dos negros, índios e brancos, do céu e do inferno, do amor e da amizade...e veja só! Separaram até a música! Temos Rock, Mpb, Reggae, Rap, Pagode, Sertanejo, Metal, Eletrônica e tantos outros rótulos.

Chega!! Pelo amor de Deus! Pelo Deus de todos os idiomas, doutrinas e religiões!
Chega! Ou o mundo vai virar um imenso catálogo empoeirado, escrito por homens que se julgam no direito de redigir os nossos destinos.

Precisamos nos proteger sem grades, para que a luz do sol bata inteira dentro das nossas casas.

Um abraço!

domingo, 1 de julho de 2007

Aqui de minha janela, dá pra ver o mundo queimar

Ontem, sábado, de última hora, eu e meu irmão conseguimos uma carona para o Festival de Inverno de Chapada dos Guimarães, a 60 km de Cuiabá. Estávamos indo curtir o show do Ed Motta, carinhosamente chamado de "gordão sobrinho do Tim Maia" pelos espectadores.

Ocorreu que de passagem por uma das pracinhas da cidade, avistamos um enorme telão, onde estava sendo projetado um documentário sobre a ocupação da amazônia. De iníco, paramos em pé, apenas para uma conferidinha rápida, mas nos empolgamos com as histórias que eram contadas pelos entrevistados e decidimos assistir até o fim.

Tratava-se de relatos de trabalhadores rurais e seus filhos, que tentaram ganhar a vida acreditando nas promessas de evolução e prosperidade, moldadas pelo então presidente ditador Emílio Garrastazu Médici, que a construção da rodovia transamazônica traria.

Dizia ele que a nossa grande floresta era o céu, o paraíso, e estava destinada aos pobres do nordeste que não possuíam nem meio palmo de chão.

Aqueles, homens, mulheres e crianças miseráveis, esfomeados e analfabetos migragram rumo à terra prometida.

Ao chegar, a surpresa...
Nem evolução, nem prosperidade, nem estrada. Nada. Apenas mentira. Pesadelo travestido de sonho.

O trabalho escravo massacrou aquele povo.

Foi um filme sobre poder, lama e sangue, que acabou ficando por um tempo dentro da minha cabeça. Me fez pensar no sentido que havia em estar ali, me divertindo num festival, assistindo a um show do "gordão sobrinho do Tim Maia" que diz não gostar do meu país, em meio a uma juventude alternativa que quer ser diferente e mudar o mundo à base de sexo, drogas e rock n' roll, enquanto o mundo explode. Enquanto tem gente de carne, osso e coração, como eu, como você, sendo assassinada por sonhar demais, por acreditar, por ter fé.

E me dizem na escola, na televisão, na roda de amigos: Carpe Diem! Aproveite a vida porque ela é curta!

Não. Eu me sentiria frustrado por ter entrado nesse mundo pra me divertir e deixá-lo ainda mais cinza que antes para os meus filhos, e os filhos dos filhos dos meus filhos.

Todos adoramos rir, dançar, e nos divertir. Mas isso é entre nossos amigos...felizes e bem nascidos como somos .

Agora rir, dançar e se divertir, pra depois cruzar os braços em meio a tanta desgraça...me desculpe, mas não temos esse direito.

terça-feira, 26 de junho de 2007

A Muralha

Não se ergueu nas montanhas da China
Nem tombou sobre o chão de Berlim
A Muralha cresceu, imponente
Aqui mesmo...dentro de mim

domingo, 24 de junho de 2007

O Anormal

Seria mais fácil ser "normal" como o resto do mundo. Viver dentro de uma bolha, isolado da própria consciencia. Pular o ano novo, Pular o carnaval e cair dentro de um poço de rotina pré-fabricada.

Seria sem duvidas, muito mais fácil padecer sobre essa cegueira hipócrita, sobre esse bunda-molismo que está murchando a nossa querida pelota azul! Mais fácil ajudar a construir esse muro cada vez mais alto, para que ele nos cerque, nos tranque, até perdermos o ar, até que o céu com a lua, as estrelas e os passaros...desapareça!

Não! Não!

O anormal canta feito um louco. Canta nas praças, nas escolas, ruas, campos e construções...O anormal não só canta, mas segue a canção! O anormal se indigna...paralisado com a marcha dos robôs. O anormal se apaixona, por seus "amores para a vida inteira".

O anormal não se cansa...nunca desiste de acreditar no seu sonho! E o sonho de um anormal é poder encontrar por aí alguns exemplares da sua rara espécie. Porisso...anormais de todo o mundo, uní-vos! Saiam de vossas tocas! Descubram-se!

Junte-se a mim! Junte-se a nós! E vamos cantar! Nas escolas, nas ruas, campos construções!Caminhar e cantar...e principalmente SEGUIR A CANÇÃO!