sábado, 17 de abril de 2010

A cidade e suas histórias

Os homens correm em seus carros. Correm pelas ruas e avenidas como o sangue escorre pelas artérias de um corpo. Os homens não sabem quem são, nem por que correm, nem para onde vão. Mas o fato é que também sou homem. E como todo homem, perdi a visão.

Acordei de um sonho estranho. Eu morava numa rua sem esquinas. Uma estreita e infinita rua sem esquinas. Caminhava como quem vai comprar o pão matinal, afogado em sono, olhos inchados, garganta amarga. Vez em quando levantava a cabeça e mirava o sol, que nascia no horizonte, onde a rua sumia.

Aquele era eu. Um andarilho vindo não sei de onde, rumo a lugar nenhum. Pelo menos era uma linda manhã. E o sol, brilhava.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Até breve, amor.

O silêncio parecia infinito, mas dentro da minha cabeça tocava uma orquestra de buzinas e sirenes misturadas com melodias tristes. No coração, mil facas fincadas. Contava os minutos para o horário do primeiro ônibus. O tempo, para mim, nunca havia passado tão lentamente como agora. Quinze para as cinco da manhã, finalmente. Levanto-me, calço os sapatos, saio pela porta da linda casa de madeira, atravessando a varanda com o olhar congelado no portão de ferro. Sem adeus nem até breve. Não desejaria viver aquilo novamente nem em outra encarnação.

Deixei meus passos pela rua escura e deserta, rumo ao ponto de ônibus. Juntei-me a um trabalhador, que cheirava a perfume barato. A condução chegou em 15 longos minutos. Quando o motorista acelerou, alguns pingos de água se espatifaram em minha janela. Agora chovia, intensamente. Chovia, lavando as ruas naquele final de madrugada. Chovia, a água carregando a sujeira de ontem para sempre, para o ralo, o sarcófago perdido de onde nunca mais este dia deveria ser retirado. Chovia, e em meio a chuva, o céu clareava, me mostrando que o amanhã, para a minha sorte sempre vem. Cheguei em casa, tomei um banho, um copo de leite e adormeci.

Desta vez, como fazia-se necessário, dormi sem sonhar.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

I

Quando é que eu iria ver tudo mudar? Aquela esquina, o poste apagado, o ponto de ônibus, as pessoas tristes de manhã. Quando é que tudo se transformaria? Quando deixaria de ser?

Enquanto a chuva bate na minha janela, os pensamentos vagam em alta velocidade nos trilhos da imaginação. Como um trem sem rumo que vai levantando a poeira de cenas passadas, fantasias, saudades, desejos de futuro. Do lado de fora da cabeça, continua o mesmo. Às vezes me pergunto se o mundo muda, ou nós é que vemos as coisas de forma diferente. As montanhas estão lá, no mesmo lugar, o poste apagado e as pessoas tristes no ponto de ônibus também.

Todos ali, no enquadramento da minha janela, a mesma composição de vinte anos atrás.