Ontem, sábado, de última hora, eu e meu irmão conseguimos uma carona para o Festival de Inverno de Chapada dos Guimarães, a 60 km de Cuiabá. Estávamos indo curtir o show do Ed Motta, carinhosamente chamado de "gordão sobrinho do Tim Maia" pelos espectadores.
Ocorreu que de passagem por uma das pracinhas da cidade, avistamos um enorme telão, onde estava sendo projetado um documentário sobre a ocupação da amazônia. De iníco, paramos em pé, apenas para uma conferidinha rápida, mas nos empolgamos com as histórias que eram contadas pelos entrevistados e decidimos assistir até o fim.
Tratava-se de relatos de trabalhadores rurais e seus filhos, que tentaram ganhar a vida acreditando nas promessas de evolução e prosperidade, moldadas pelo então presidente ditador Emílio Garrastazu Médici, que a construção da rodovia transamazônica traria.
Dizia ele que a nossa grande floresta era o céu, o paraíso, e estava destinada aos pobres do nordeste que não possuíam nem meio palmo de chão.
Aqueles, homens, mulheres e crianças miseráveis, esfomeados e analfabetos migragram rumo à terra prometida.
Ao chegar, a surpresa...
Nem evolução, nem prosperidade, nem estrada. Nada. Apenas mentira. Pesadelo travestido de sonho.
O trabalho escravo massacrou aquele povo.
Foi um filme sobre poder, lama e sangue, que acabou ficando por um tempo dentro da minha cabeça. Me fez pensar no sentido que havia em estar ali, me divertindo num festival, assistindo a um show do "gordão sobrinho do Tim Maia" que diz não gostar do meu país, em meio a uma juventude alternativa que quer ser diferente e mudar o mundo à base de sexo, drogas e rock n' roll, enquanto o mundo explode. Enquanto tem gente de carne, osso e coração, como eu, como você, sendo assassinada por sonhar demais, por acreditar, por ter fé.
E me dizem na escola, na televisão, na roda de amigos: Carpe Diem! Aproveite a vida porque ela é curta!
Não. Eu me sentiria frustrado por ter entrado nesse mundo pra me divertir e deixá-lo ainda mais cinza que antes para os meus filhos, e os filhos dos filhos dos meus filhos.
Todos adoramos rir, dançar, e nos divertir. Mas isso é entre nossos amigos...felizes e bem nascidos como somos .
Agora rir, dançar e se divertir, pra depois cruzar os braços em meio a tanta desgraça...me desculpe, mas não temos esse direito.