segunda-feira, 28 de abril de 2008

O Velho e o Jardim

Era aquele sol bonito do fim da tarde. Amarelo, aconchegante. O velho agora descansava. Quanto tempo tinha tudo isso mesmo? Ninguém nunca soube. Ninguém nunca saberá.

Era um moço diferente. Tinha alma de poeta, jeitão de vagabundo. Sempre mirando o alto, o céu imenso, o futuro tão míope.
Era meio maníaco, sistemático, daí surgiu a sua principal característica, sua peculiaridade: uma flor para cada amor.

A primeira ele plantou aos 15, num fim de tarde como esse de agora. Cresceu meio torta, mas com cores vivas. Brilho de novidade.
A segunda veio um bom tempo depois, era como a continuação daquilo que não foi. Experiência. Vários tombos, espinhos e cicatrizes. Mas ainda perfumada de beleza. Cedeu a muda para a terceira.
Veio voando devagar, junto com os ventos de junho. Aterrissou na terra preta, de mansinho, sem que o moço já não tão moço percebesse. Foi ficando, e ficando, e crescendo, e crescendo. Não tinha as mais belas cores, mas o melhor perfume. Tinha a magia de se multiplicar, e fazer brotar sorrisos e abraços. Sempre.

Três. Somente três. E precisava mais? Que sorte! De tantas estrelas no céu, haviam três na terra, ali mesmo no seu quintal.

Um jardim de lembranças, que ele prometeu cuidar até o final. Cresceu tanto que tomou conta de tudo. O céu, o quintal, a casa, os sonhos, a vida. E envolveu o velho. Até esta tarde de sol amarelo, aconchegante, onde finalmente descansa.

Quanto valeu mesmo tudo isso?
Ninguém nunca soube. Ninguém nunca saberá...

5 comentários:

Karen Costa disse...

Me faz lembrar aquela conversa que tivemos em alguma madrugada. De que se pode ter, sim, muitos amores em uma única vida. E verdadeiros!
E é tudo exatamente assim, a primeira meio torta, a segunda cicatrizes e a terceira a mais perfumada.
Poesia!
E bonita mesmo é essa fotografia :)

Anônimo disse...

Negão, Negão...
Adorei essa! (E você sabe que não sou de elogiar só pra agradar, quando digo que gostei...é porque gostei MESMO!)
E tem mais:
Que assim seja com você!
Bjo

Anônimo disse...

Lorena, (Karen?)
E a fotografia... tão linda quanto a fotógrafa.
Tô chegando.
Te vejo sábado heim? ;-)
Bjo

Ana Beatriz Frusca disse...

Como cada amor vivido poderia ter a mesma flor?
Amores e/ou até paixões tem suas peculiaridades.
Beijos.

humor. disse...

bonito texto.